domingo, 27 de março de 2016

Brisas quentes, raras

Hoje, a lua chamou por mim. Fria e cheia, fitou-me com um ar impaciente e perguntou-me o que andava a fazer acordada aquelas horas. Horas indecentes, para quem tem uma vida ordeira. Mas esse não é o meu caso, nunca foi. Disse-lhe que não era da minha essência fazer tudo como as outras pessoas fazem, que encontrava nas minhas noites em claro algo que muita gente procura uma vida inteira. Aventura e paz. E é nesta doce melodia que eu embarco todos dias, embalada por uma musica que as estrelas tocam só para mim. Talvez seja eu delirante, sim, posso ser louca e não o nego. Mas se é na minha loucura que reside o verdadeiro sentido da felicidade deixem-me saborear aquilo que poucos aprendem a sentir, porque os olhos são demasiado realistas, e é quando os sabes fechar que a magia acontece. Respira a brisa quente que a noite te traz, bem dentro do peito, inspira e deixa acontecer.

terça-feira, 22 de março de 2016

Dia Mundial da Poesia

Hoje, o Mundo celebra o dia da Poesia. Porque é um dia que representa todas as inúmeras páginas escritas de lindos poemas, que de uma forma ou de outra nos tocam a alma. Aproveito a data para homenagear aquela que foi, para mim, uma das maiores e mais marcantes poetizas do nosso tempo. Tenham uma boa semana, que seja poética!

Mar
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua
.
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

in Poesia, 1944

 
 (foto minha, Praia de Melides)

Mar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

In Poesia I

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Olhos nos olhos # Parte I

 # Alice

[...] Passava pouco das dez da manhã quando acordou. Esgueirou-se para a janela e afastou os longos cortinados da frente. O dia amanheceu cinzento e chuvoso, como já se fazia prever na noite anterior, pensou ela quando se lembrou da manta extra que tinha ido buscar para a aconchegar. A vida no campus era confortável o suficiente para se lamentar da sua inevitável partida, mas sabia que estava na altura de sair da 'bolha' e conhecer a realidade do mundo. E isso seria uma coisa boa, uma chance de começar de novo. O pensamento alegrou-a. Saltou do pijama para uns jeans de ganga azul e uma camisola quente, um casaco e umas botas altas completaram a indumentária aconselhada para um dia chuvoso. Desceu as escadas e agarrou um café enquanto se dirigia para aquele que seria o seu último exame de mestrado. Depois disso seria como um passarinho livre, à procura do próximo galho seguro para construir um novo ninho. Mas antes disso tinha que passar no exame. - Tenho mesmo que passar no exame - pensou ela enquanto procurava focar-se no que é realmente importante agora. Tinha que terminar o exame e encontrar o próximo rumo. Já que para sua casa, a casa onde cresceu, não podia voltar. Nunca mais. [...]

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

# queda das folhas

Tempo. 
Sou só eu ou o tempo tem passado por nós com uma força indomável, mas a pezinhos de lã, para não darmos por ele, e quando olhamos para trás já passou quase mais um ano. Os ares quentes de Verão já se despediram de nós, a muito custo, para dar lugar às brisas frescas de um Outono que nos dá as boas vindas. Por todo o lado vai pintando ruas e avenidas com as folhas envelhecidas das árvores da nossa cidade, brindando assim os nossos olhos com uma paisagem digna de um quadro de Van Gogh. E é tão bom viver assim. Longos passeios pela calçada, irregular e gasta, lembram-me da mão quente da minha avó enquanto me levava para procurar os primeiros assadores de castanhas. Um prazer que era muito nosso, como sentir o cheiro do entardecer, sentadas num banco do jardim, vendo o tempo passar e a pensar na sorte que tínhamos, por poder desfrutar da companhia uma da outra e ver toda aquela beleza imponente. Por mais Outonos que veja chegar, vou sempre recordar estas fotografias, que só existem na minha memória. Nostalgia, sim. Mas não imagino a minha vida sem a recordação da criança que fui, é dela que vem a mulher que sou hoje. Abraço estas recordações de Outonos passados com olhos postos nos que ainda estão para vir, enquanto saboreio uma chávena de café e partilho histórias com vocês.
E é assim que dou as boas vindas à estação mais carismática de todas, que seja um lindo e aconchegante Outono.





"Mesmo deixando algo por fazer, toda a gente deve ter tempo para parar e, em silêncio, olhar o esvoaçar das folhas."
- Elizabeth Lawrence

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Vida, uma longa jornada

A maior das jornadas tem sido aquilo a que chamamos vida. Alguns dizem que sou louca por viver à beira do abismo, outros que sou inconstante como o vento porque mudo constantemente de direção, e ainda há quem diga que sou apenas uma mulher que traz o oceano no coração, consciente da força que ele tem. Não quero o mundo inteiro, pois sei que não é esse o meu caminho e não é essa a forma como eu quero viver. Quero sim chegar à lua e às estrelas sem tirar os pés do chão, quero alcançar os meus sonhos sem me esquecer de quem sou e de onde venho. Quero ter sempre comigo aqueles que têm sido os meus companheiros de viagem, aqueles ombros cheios de amizade e amor que me têm relembrado que eu tenho asas, nos dias em que esqueço como se voa. Não tenhamos pressa mas não percamos tempo, o nosso caminho começa agora.
E vocês, até onde querem chegar?


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

# como traçar o teu caminho

Vida.
Destino.
Karma.
Três palavras que me dão que pensar. São apenas palavras como tantas outras por ai espalhadas ao vento. Soltas, elas dão asas a várias reflexões que nos tocam no coração. Mas juntas, são uma arma poderosa que me faz questionar toda a nossa existência e qual é o melhor caminho a percorrer para chegar ao meu destino. Mas qual é o meu destino? Estou no caminho certo ou vou falhar a minha meta? Será que estou a fazer algo mal e não consigo ver? Terei estas respostas por perto se abrir bem os olhos?  
Bem, estas são questões que pairam pela minha cabeça, atormentando-me como uma manhã de nevoeiro mas sei, que no fundo, não sou a única a tê-las. Se descobrir as respostas partilho-as convosco, deve haver muitos curiosos por ai. Pois partilho então o que realmente sei.
Sei que, seja qual for o destino ainda há um longo caminho a percorrer. Há metas por definir e muitos sonhos para realizar. Nunca esquecer também de não ter apenas a meta em mente, e saber aproveitar o caminho e todas as boas descobertas que ele trouxer. Sei também que tenho um companheiro de viagem que entrou na minha vida há dois anos atrás, e por isso eu não podia estar mais grata. Ele vai comigo à descoberta, e juntos eu sei que podemos conquistar o mundo.
E vocês também podem. Inspirem o vosso caminho e sei que vão chegar onde quiserem. Sejam livres, sejam selvagens. Boa viagem!




"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
José Saramago





quarta-feira, 29 de julho de 2015

# alma(s) de mulher

Tenho cá para mim, que numa mulher moram várias almas, inquietudes e virtudes, medos e sonhos. Uma mulher traz sempre o oceano no coração, se não acreditas chega aqui, encosta o teu ouvido ao meu peito e diz-me o que ouves. O mar é uma força da natureza indomável, assim é o coração de uma mulher. Louco é aquele que pensa poder domá-lo e percebe-lo, mas cedo desistem. Tudo faz sentido quando me sento na areia, de cabelos ao vento e caneta na mão, coloco os olhos nas ondas e inspiro esta doce maresia. Há algo de paradoxal no mar, nas ondas que chegam e nas que partem, nele há tanta inquietação como calmaria. É nesse paradoxo que fico deliciada e arrumo os meus pensamentos e recordações, e procuro soluções e respostas. O mar é meu amigo e bom concelheiro, até mesmo nas vezes em que o coração me falha e já não tenho voz para gritar.